segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mediato

O que tem a função de mediação – é um mediato. Entendendo que o mediato é um termo que trata daquilo que está no meio de dois extremos, ou em um mesmo extremo, sendo aquilo que media ou medeia duas coisas.

(Dicionário de Bluteau, Raphael. “Vocabulario portuguez e latino”. Arquivo digital em: http://www.ieb.usp.br/)

Neste trabalho chamo a atenção para questões como a invisibilidade gerada pelo hábito da vida prática no cotidiano. Essa invisibilidade pode ser observada, por exemplo, em nossa relação com a arquitetura, ou seja, como cotidianamente deixamos de ver o espaço arquitetônico em que vivemos em função do uso que fazemos dele.

A relação da arquitetura com o observador tem sido sempre, em primeiro lugar, utilitária, devido à necessidade básica do homem de abrigar-se, e só secundariamente a percebemos como algo a ser contemplado. Desta maneira, nosso contato com a arquitetura é pragmático, criando hábitos que liberam nossa atenção, deixamos então, de perceber os detalhes do nosso entorno.

Esta questão da invisibilidade também foi abordada por Walter Benjamin em seu texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Nele o autor nos fala deste mundo de imagens, em que tudo se torna absolutamente próximo e revelado ao olhar e onde a “tatilidade” beira a cegueira, gerando uma incapacidade total para qualquer forma de distanciamento, possibilitando assim, uma completa imersão no objeto.

Levando em conta questões como a relação da arquitetura com o observador pelo viés da invisibilidade e cegueira abordadas por Walter Benjamin, meu interesse é interferir onde a protagonista é a arquitetura. Como é um espaço geométrico, construído de sólidos e vigas bem encaixadas onde a linha reta predomina e como um lugar, que por excelência, é de atenção flutuante do observador.

Esta mudança na percepção do espaço é uma operação mental, produzida pela ação sutil do trabalho no espaço. É preciso contar com o envolvimento de cada espectador para transformar o espaço interno da sala de exposição. O objetivo é gerar uma súbita dúvida sobre a certeza da geometria segura do ambiente e fazendo assim com que o observador se perceba dentro de um espaço equívoco e instáveil. O que interessa neste projeto é esta relação do espectador com o trabalho, afinal, será a sua experiência individual que, em última instância, fará acontecer esta mudança da percepção.

Com “mediato” o objetivo é perturbar e reduzir as noções de espacialidade do espectador sobre a arquitetura, exasperando a fronteira do seguro e do estável, criando uma zona de tensão e ambigüidade. Para que o trabalho acontecesse foi preciso buscar os recursos físicos e visuais que me possibilitassem transcender a geometria pela percepção, estabelecendo uma ligação entre o real e o irreal apenas com pequenas alterações de 10 centímetros nas linhas retas do ambiente expositivo, procurando confundir a superfície-limite. Por ser uma alteração pequena deveria ter muita potência visual para que se possa vivenciar a experiência de estar dentro de um trabalho de arte e fazer parte dele, não apenas como observador, mas como “percebedor” do mesmo pela experiência física e psíquica de desestabilização, desta maneira, todos os trabalhos projetados devem trafegar entre o ínfimo e o imenso.

Iriana Vezzani

Um comentário:

Inajara disse...

Belo trabalho e é sempre bom aprender sobre conceitos de arte com verdadeiros artistas como a Iriana. Parabéns e muito sucesso!